segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Papai Noel na "Terra brasilis"

Humberto Mainenti

... E eis que, aos primeiros minutos do dia 25 de Dezembro, como faz todo ano, Papai Noel deixou sua fábrica, no Pólo Norte, e saiu para a árdua tarefa de entregar presentes às crianças do mundo todo, em apenas uma noite. Mas este ano seria diferente; ele mal sabia o que o esperava...

O seu departamento de logística orientou que a melhor rota, este ano, seria fazer o bloco Europa / Ásia / África / Oceania primeiro, de cima pra baixo, e, depois de passar pela Antártida (vai que tenha nascido alguma criança lá!), percorrer o bloco das Américas subindo. Deste modo, ele adentrou o Brasil pelo Sul - sabe-se lá por que cargas d'água, por Foz do Iguaçu.

A chegada à "Terra brasilis" se deu ao anoitecer e, já de cara, os problemas começaram surgir. Ao sobrevoar a região da Ponte da Amizade, o trenó foi alvejado pela Guarda da Fronteira, que cismou que aquela "carruagem" entupida de pacotes era contrabando na certa! A rena Rudolph - a do nariz vermelho e luminoso - foi a primeira a ser alvejada, já que era o ponto de referência na escuridão. Papai Noel teve que ser ninja pra segurar o trenó, que se desestabilizou completamente com o peso da rena ferida e pendente, e fez um heróico pouso forçado nas águas do rio. De nada adiantou argumentar com os "otoridade", que aqueles produtos todos eram de fabricação própria e que não seriam vendidos na 25 de Março. "Tá bom! Vai querer que a gente acredite em Papai Noel também, ô vagabundo!", diziam eles. O Bom Velhinho só conseguiu seguir viagem depois de deixar uma meia dúzia de presentinhos pra cada guarda. E, mesmo assim, não escapou das manchetes do Fantástico, no Domingo: "A ousadia dos contrabandistas, na fronteira com o Paraguai, não tem limites!... Bá blá blá..."

Deu uma esticada direto até o Rio Grande do Sul, onde seu modelito de cetim vermelho, com botas pretas, imediatamente virou tendência entre a gauchada, que só trocou o gorro pelo chapelão e adicionou o lenço no pescoço. Um arrasooo!

Na região de São Joaquim e Urubici, mais um contratempo: numa das paradas, três das renas - as mais velhinhas e caducas - juravam que já tinham chegado em casa, tamanho era o frio. Foi um custo convencê-las de que tinham mais de 10 mil quilômetros de viagem ainda...

Passando por Curitiba, Noel foi alertado pelo CINDACTA 2 de que o tráfego aéreo, nesta época do ano, era muito intenso e que o controle, no Brasil, não era muito confiável. E, como Rudolph, a sua rena guia, tinha ficado em Foz, para tratar do ferimento da bala, ele resolveu que seguiria por terra enquanto estivesse em território brasileiro. Desgraça pouca é bobagem!...

Antes de adentrar o estado de São Paulo, o Velhinho resolveu cortar o Paraná de leste a oeste e já ficar livre, de uma vez, da região Centro Oeste. Péssima escolha! A travessia do Pantanal à noite custou-lhe mais três renas - justamente as velhinhas: viraram comida de jacaré... E dá-lhe mais atraso!

Passou por Brasília na manhã do dia 26 e, como a cidade estava deserta, ninguém notou sua presença (exceto a Dilma, que agradeceu ao Velhinho o "presente" que foi a retirada do Aécio da corrida presidencial; e o Arruda, que tentou convencê-lo a dar um depoimento dizendo que aquele dinheiro do Durval era pra comprar presentes para as criancinhas das cidades satélites - já que a história dos panetones, definitivamente, não havia colado).

Pé na estrada! Já que estava todo atrasado mesmo, agora foda-se! Cortou de cima a baixo o "nariz" de Minas Gerais e resolveu atender aos paulistas antes de continuar subindo. No interior de São Paulo, foi interceptado por uma manifestação do MST e só conseguiu seguir viagem depois de deixar mais uma rena - dessa vez, a mais gordinha - para alimentar os baderneiros. Seis horas e meia de engarrafamento na Castello Branco, com a paulistada voltando das casas dos parentes no interior, finalmente conseguiu chegar à Capital. Na cidade que não pára, foi recebido na FIESP com honras de grande empresário e ouviu de Eike Batista indecorosa proposta de compra da sua fábrica de brinquedos (que passaria a se chamar Fábrica do Papai NoeX). Verdade seja dita: ficou balançadão com a proposta, principalmente diante dos últimos acontecimentos. Mas, em nome da tradição, resolveu recusar. Fez o que tinha que fazer e seguiu para o Rio de Janeiro.

Chegou à Cidade Maravilhosa às vésperas do Réveillon e ficou estupefacto com os preparativos para a festa. O Governador Sérgio Cabral, espertão como sempre, deu declarações à mídia dizendo que estava trazendo o Bom Velhinho para as comemorações do Ano Novo na praia de Copacabana. Mero factóide, como sempre! Em Nilópolis, Neguinho da Beija-Flor tentou convencê-lo a ficar até o Carnaval; segundo o cantor, bastava dar um tom de pink na roupa do Velhinho e ele poderia encarnar o grande mestre do Samba que seria homenageado pela Escola: Noel Rosa. Convite absurdo recusado, viagem que segue - não sem antes perder mais uma rena, vítima de bala perdida (estão fazendo as contas? Eram 9; menos Rudolph = 8; menos as 3 do Pantanal = 5; menos a do MST = 4; menos essa = 3).

A passagem por Minas Gerais ocorreu sem maiores traumas. Papai Noel só não entendeu o por que de uma parcela significativa da população da Capital, BH, insistir para que ele mudasse a cor de sua roupa: "Queriedoooo; com esse modelito aaabsoluuuuto, de cetim; essa cutis rosadaaaa; e esse monte de veadinhos em volta; conhecido mundialmente como "Santa"; a sua roupitcha tinha que ser azul e braaaaancaaa! Se ligaaa!" "Gente estranha...", pensava o Velhinho. No interior do Estado, comprou, de um matuto, uma parelha de jumentos para ajudar a puxar o trenó, já que a situação não estava muito boa para as três renas restantes. E vambora!!!

Na Bahia, não resistiu ao calor e, de ceroulas e com uma camisa florida, comprada na Passarela do Álcool, resolveu curtir uma praia em Porto Seguro. Teve um baiano que acreditou ter visto o Hermeto Pascoal no Tôa Tôa, na tarde do feriado do Ano Novo. Mas, como o "artista" estava a umas duas mesas de distância, preferiu morrer com a dúvida do que fazer o enorme sacrifício de ir até lá verificar se era ele mesmo. "Meu Rei... Se ele tivesse um pouquinho mais perto, até ia lá pedir um autógrafo!", dizia ele a um amigo.

O restante do Nordeste foi tranquilo, apesar do calor, e, em poucos dias (isso mesmo: dias!!!), estava em Belém. Ali, uma passagem, no mínimo, inusitada: com o apoio de uma importante família de políticos do estado vizinho (uns tais de Sarney), o poder público local fazia intensa campanha na TV Liberal (afiliada da Globo) para que a Capital Paraense fosse reconhecida oficialmente como a cidade natal de Jesus. O Véio, que já tava "por aqui" com essa porra de Brasil, trepou nas tamancas: "CÊS TÃO CUMENO COCÔ, CAMBADA DE LOUCO!!!" Por pouco, a coisa não vira um incidente diplomático entre Brasil e Pólo Norte...

"Falta pouco pra eu sair dessa lama!" Era só isso que o nosso Bom Velhinho pensava quando adentrou o Estado do Amazonas. Ficou só no pensamento mesmo. Aliás, na lama foi justamente onde ele ficou por 5 dias e 6 noites, atolado na Transamazônica. Foi rebocado por uma expedição de jipeiros, que seguia rumo a Humaitá. Um perrengue danado! Deu um pulo em Porto Velho; depois, Macapá e Boa Vista. Não foi ao Acre, pois tinha ouvido o Rafinha Bastos falar que o Acre não existe. "Prefiro acreditar em Papai Noel do que nessas coisas...", pensava consigo mesmo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

As "celebs" do Twitter

Humberto Mainenti

O Twitter, o microblog da internet, que surgiu com a pobre idéia de fazer as pessoas contarem, em até 140 caracteres, o que estavam fazendo no exato momento da postagem, tornou-se um fenômeno na rede e, entre outras ramificações de suas "utilidades agregadas", uma das que mais chamam a atenção do usuário doméstico é a possibilidade real de "interação" instantânea com celebridades do mundo artístico, político, televisivo e famosos de todos os tipos (coloquei "interação" entre aspas porque este termo implica em comunicação de mão dupla, o que, no caso do Twitter, nem sempre acontece). Neste ambiente virtual, as "celebs"- vamos assim chamar os twitteiros famosos - comentam acontecimentos, divulgam trabalhos, se promovem, promovem os colegas e alguns - acreditem!!! - até conversam com "simples mortais", como eu e você.

E foi justamente este comportamento das celebs que me chamou a atenção durante os meus pouco mais de 6 meses no Twitter. Com algum tempo de convívio diário e uma dose daquela velha mania de classificar, inerente ao ser humano (à qual já me referi em textos anteriores), é possível agruparmos nossas queridas celebs em alguns grupos, de acordo com as semelhanças entre os seus comportamentos. Quer ver só? Vai lendo aí...

Bom... Logo de cara, temos aquelas celebs que - assim como twitteiros comuns do mundo inteiro - ainda usam o Twitter com sua função original: dizer o que estão fazendo naquele exato momento. Só que, no caso das celebs, a resposta para a pergunta "o que você está fazendo agora?" nem sempre é algo comum, ou ao alcance dos simples mortais. Alguns exemplos:

@Famoso1: Entrando no Projac, com @Famoso2 e @Famosa3. Hoje o dia vai ser duro!...

Ou então:

@Famosa4: A entrevista com a Madonna começa em 5 minutos! Depois eu conto como foi!...

Ou ainda (as melhores):

@Famosa5: Dia lento. Calor infernal! Acho que vou pra piscina... (este tipo de mensagem normalmente aparece em plena Terça-feira, por volta das 15h...).

Continuando, há aqueles que já perceberam os benefícios que a presença no Twitter traz para sua imagem e criam um perfil no site, para se mostrarem antenados e moderninhos. Porém, quem alimenta o perfil e responde as mensagens dos seguidores é um assessor de imprensa, uma filha ou outra pessoas qualquer. Quem é "twitteiro véio" aí conhece bem o tipo a que me refiro...

Há as celebs que usam o Twitter para reafirmar sua fama. Suas mensagens normalmente citam outras celebs, porém com a intimidade de quem está falando de um primo que você vê todo dia... Ah! São comuns também links para fotos - normalmente de celular - em que elas aparecem junto às celebs citadas, como quem diz "olha como é legal a minha vida de famoso, junto com os meus amigos também famosos!" Vejam exemplos típicos:

@Famoso6: Indo pro RJ hoje. Níver do Lu (@lucianohuck)...

@Famosa7: Eu, @Famosa8 e @Famoso9 no boliche ontem. A noite foi demaaaaaaais!!!... (link para foto da turma).

O Twitter também serve para massagear o ego das celebs. Há algumas - normalmente mulheres - que passam o dia "retwittando" (postando novamente, para os seus leitores / seguidores) mensagens de fãs baba-ovo, puxando o seu saco. Pérolas como essas aí:

@Famosa8: RT@mortal1: Ai, @Famosa8! Como você está linda no programa da Hebe!!!

Ou:

@Famosa9: RT@mortal2: @Famosa9 me conta de onde é esse vestidinho lindoooo que você estava usando no Criança Esperança!!! Maravilhoso!!!

Mensagens como esta última normalmente vêm acompanhadas da resposta, em tom bem blasé: @Famosa9: É da Daslu, querida! (Como quem diz: "passa lá hoje, depois do trabalho, que você acha!...").

E as celebs que usam o Twitter como MSN?! Passam o dia trocando mensagens com suas coleguinhas, também celebs, sobre assuntos absolutamente pessoais, como cachorros, o jogo do Flu ou qualquer coisa do tipo... Essas, sinceramente, não sei o que têm na cabeça, além da necessidade de exibir sua celebridade de um modo - digamos - natural...

Tá parecendo que só tem coisa chata rolando no universo das celebs do Twitter, né? Nãããão... Tem coisas legais também!...

Começando pelos mais simples: existem aqueles que utilizam o Twitter como extensão das suas ferramentas de divulgação, mas fazem isso de maneira inteligente e prática, divulgando espetáculos, fazendo promoções com seus seguidores, ou divulgando notícias em primeira mão. Não se trata propriamente de uma interação, mas pelo menos trazem coisas úteis e interessantes. Estes são bons de serem seguidos.

Mas há ainda os que, além de se divulgarem positivamente, apresentam ainda ideias, artigos legais, links interessantes, coisas divertidas. Enfim, usam o Twitter de maneira verdadeiramente construtiva. Aliás, normalmente, estes são os mesmos que, eventualmente, se comunicam, de maneira simples e espontânea, com seus fãs e seguidores. Alguns músicos, apresentadores de TV e até políticos se enquadram neste grupo. Costumam ser bem populares (será por que?!...).

Os humoristas também são legais! Não há quem não goste de uma piada colocada no momento certo! E, para isto, o Twitter se presta com excelência ímpar! Só não tente respondê-los com algum tipo de piada também, ou experimentará o mais solene desprezo (mesmo que, algumas horas depois, eles publiquem a sua piada como sendo deles mesmo...).

Outro tipo interessante: os que usam o Twitter como uma espécie de "válvula de escape": têm o dia tão atarefado que, quando conseguem um tempinho para "twittar", só soltam abobrinhas e bobagens de toda espécie... Estes, no início, causam estranhamento e até decepção aos seguidores recém chegados, pois normalmente são seguidos em função de sua imagem e de suas ideias, divulgados na vida pública. Mas, passado o impacto inicial e descoberto o ser humano por trás das teclas, estas pessoas acabam se tornando bem interessantes e divertidas...

Ah! E não poderia terminar sem falar dos fakes, aquelas pessoas que adotam, no Twitter, a identidade de alguma celebridade. É interessante como várias destas celebs fakes, algumas vezes, ganham até certa notoriedade. Aliás, quem acompanha o Twitter sabe que um dos brasileiros mais influentes do site era um destes fakes, que construiu fama no microblog com o consentimento da celebridade original, e que agora, com personagem próprio (baseado exatamente na mesma ideia criativa do personagem anterior), leva vida de celeb de verdade! E é divertidíssimo, por sinal; seguido por várias celebs de calibre!

Vocês notaram que não citei nome de ninguém nesta minha prosa besta. Mas, para quem está no Twitter, nem precisa, né?!... Quem não está, junte se a nós e divirta-se também com os "tipos" aí!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Personagens urbanos II: eles continuam entre nós

Humberto Mainenti

O post "Personagens urbanos" foi o que gerou maior repercussão na curta vida deste meu blog. Além dos poucos comentários no próprio blog, foram várias as mensagens que recebi por e-mail, celular, e até pessoalmente, todas me dando notícias das figuras que citei. Achei legal dar continuidade à saga e compartilhar estas notícias com vocês. Leiam e não deixem de enviar suas próprias versões, se divergirem das que são aqui apresentadas!

A notícia mais - digamos - diferente que recebi veio do meu amigo Adriano Rocha e diz respeito ao gordão do túnel. O Adriano me disse que leu em algum lugar que o tal sujeito não era simplesmente um indigente, e sim um ex-funcionário da CEMIG, com esposa, filhos e tudo mais, que, um belo dia (não deve ter sido tão belo assim...), surtou, saiu de casa, tirou a roupa e resolveu viver ali, no Complexo da Lagoinha. Sério isso?!?! Alguém confirma esta versão? Caramba!...

Sobre a velhinha que pede esmolas no Centro da cidade, o depoimento veio do meu primo Tomás: "Já me esbarrei com a velhinha do Centro algumas vezes e presenciei algumas situações engraçadas com a tal figura... Ela fica sempre ali na rua dos Guajajaras, nos botecos próximos ao prédio do Rotary. Um certo dia, estávamos eu e um amigo no boteco, quando ela me abordou. Driblando toda a sua dificuldade da fala e utilizando um recurso inovador (o que antes ninguém havia visto), a senhora me solta: "Ô meu melhor amigo; me dá uma ajuda, meu melhor amigo!" Não bastasse a surpresa de descobrir que aquela senhora falava, descobri também que, ao ser contrariada, soltava palavrões com uma desenvoltura e uma articulação jamais imaginadas... Ao negar a ajuda, escutei um "f... da pu...; f... da pu..., viu!" ". Ha ha ha!!!

Alisson Zuim, grande guitarrista, com quem dividi palcos nas épocas de Yellowfante, dá notícias da Tomate (fonte confiável, já que ele está na ativa até hoje): segundo ele, a nossa personagem continua firme e forte em 99% dos shows da Capital, "com seus biscoitos recheados e arrastando uma cadeira para todos os lados" (tinha me esquecido destes detalhes!!!).

Fazendo uma pequena viagem a Bambuí, meu amigo de adolescência, Ivarleno Teles, comparece para confirmar o nome do nosso personagem - Juquinha: "o cara era enorme e muito glutão!!!"

Mas o campeão dos comentários foi o Raul. Segundo o Raymundão Jr., amigo de longa data, o "figura" continua por aí e, recentemente, foi visto na fila para participar de uma audição para um programa do SBT ("ídolos", ou algo do gênero). Já o colega jornalista Flávio Peixe conta que ele participou, há pouco tempo, do "Se vira nos 30", do Domingão do Faustão. "E, acredite, além do violão desafinado, se apresentou junto da sua indefectível bicicleta e acompanhado por um cãozinho...", completa. COMO EU PERDI ISSO?!?!?!

Pra quem não conhece, segue um vídeo enviado pelo Raymundão, em que nosso Raulzito homenageia o "Campeão Original do Brasileirão" (he he he...):

Na onda dos comentários, surgiram ainda alguns personagens novos, dos quais eu não me lembrava. O amigo Sinval, frequentador das madrugadas belorizontinas, com sua sensacional banda Boca de Sino, lembra do Tostão, personagem que, com uma voz poderosíssima, costuma vender jornais toda noite, no início da madrugada, pelas adjacências da rua da Bahia, na região Centro-Sul de BH.

Antes de me despedir, gostaria de citar um personagem que eu mesmo me lembrei nos últimos dias e que, por distração minha, não entrou na prosa anterior: trata-se da Ilda Calorão, da cidade de Itapecerica-MG. Esta senhorinha descia, todos os dias, da periferia da cidade, rumo ao Centro, carregando um balde cheio de água. Chegando à praça central da cidade, ela despejava toda a água do balde sobre a cabeça e gritava: "CALORÃÃÃÃÃO DE DOIDO!!!" Virava as costas e voltava pra casa.

Confesso que muitas vezes senti inveja da Ilda Calorão.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Meu Pai

Humberto Mainenti
Da série "ACHADOS"
Escrito em 08/1983, no Colégio Santa Maria
mau humor rque eu fiquei am bem apropriado ao dia de hoje)

mau humor rque eu fiquei am bem apropriado ao dia de hoje)

Essa é uma redação feita por mim, em 1983 - então com 10 anos de idade -, por ocasião do Dia dos Pais. Notem que, naquela época, meu pai ainda era quase do meu tamanho... (Ha ha ha!) Notem ainda que algumas características permanecem intactas (em ambos, diga-se de passagem): o gosto por um docinho e a exuberante beleza! (Ha ha ha ha ha!!!)

Aproveitando que hoje é aniversário dele, aí vai a homenagem!

Para quem não entendeu a letra de menino de 10 anos, segue a tradução (ops! transcrição), com os erros e acertos originais:

"Meu Pai"

"Meu pai é baixinho, quase do meu tamanho, gordinho, como eu, gosta de doce, como eu, e é bonito, outra vez, também como eu.

Meu pai é legal, às vezes fica bravo, mas, isso passa!...

Gosto muito de sair com ele. Uma vez, saí com ele, e ele estava me dando todos os trocos, só um que não. Além dos Cr$ 348,00 de um monte de trocos, me deu muitos presentes.

Gosto muito dele, às vezes brigamos, mas, é só por uma noite.

Enfim, o que eu acho, é que José Nelson Torres de Souza, é o melhor Pai do mundo.

Seu filho:

Humberto Mainenti de Souza

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Personagens urbanos

Humberto Mainenti

Toda cidade tem os seus personagens. Aquelas figuras conhecidas, que todo mundo já viu ou ouviu falar. Belo Horizonte não é diferente. Aqui também existem / existiram "personagens" - sejam pessoas comuns ou figuras lendárias - que são assuntos recorrentes nas rodinhas de amigos. Que tal relembrarmos alguns deles?

Começo citando algumas famosas "lendas" de BH, que não poderiam ficar de fora de uma prosa como esta: quem não se lembra da Loura do Bonfim ou do Capeta do Vilarinho? A primeira - diz a lenda - assombrava os desavisados que transitavam pelas redondezas do cemitério que tem o mesmo nome, na região central da Capital, há algumas décadas; o segundo, exímio dançarino, dava o ar de sua graça nos bailes da Quadra do Vilarinho, na região de Venda Nova, no início dos anos 90. Vasta "literatura" sobre estes dois personagens pode ser encontrada pelos interessados no assunto.

Mas não é sobre estes que eu quero falar. Relembrarei aqui das pessoas comuns, de carne e osso, famosas ou não, mas sempre presentes na vida do belorizontino. Dentre estas, a mais famosa talvez seja Lacarmélio Alfêo de Araújo, cidadão que, há pelo menos 15 / 20 anos (calculo eu), vende, nos semáforos da Capital, o gibi Celton, criado, editado e produzido por ele mesmo. Quem nunca viu aquela peça rara, de terno e, invariavelmente, algum outro adereço esdrúxulo, pulando entre os carros de algum sinal de BH?! E os títulos dos gibis?! "O combate da sogra com o Capeta"... E por aí vai!... Até no Jô Soares o cara já foi! Se não conhece, recomendo! Sou leitor assíduo!

Por falar em terno, quem transita pelas avenidas da região Centro-Sul da cidade, certamente já viu o Marcelino de Souza. Não conhece o nome? Mas se eu falar do cara que vende panos (daqueles de limpeza) nos sinais de trânsito, trajando impecáveis ternos, sob o sol de trinta e tantos graus das nossas tardes de Primavera, você vai se lembrar, né?!

"Faaaaaaaaaaacaaaaaaa; teeesooooooooooouura; aaaaaalicaaaaaaaate de uuuuuuuuuuunha!!!!! Ooooolha o amoooooladooooooooorrrr!!!!!" Duvido que alguém que reside ou trabalha na mesma região Centro-Sul nunca tenha ouvido esta ladainha! Este é o improvável amolador de facas que, com seu carrinho, percorre as ruas de uma das regiões mais nobres da Capital. E o que é mais incrível: tem clientela!!!

E o Raul?! Aquele cara que andava pelas ruas, principalmente durante a noite, com uma bicicleta velha, toda emperequetada, seguido por um cachorrinho sarnento, cantarolando os clássicos do ancestral roqueiro brasileiro... Este, faz muito tempo que não vejo. Ainda está por aí?

A turma do Rock certamente se lembra da Tomate. Filha de mãe famosa, era figurinha certa em todo show de Metal em BH, principalmente nos da banda mineira Overdose, que era sempre recebida por nossa personagem com seu famoso brado: "Booooooozóóóóóóóóóóóó!!!!!!" - paixão incontida pelo grande Bozó, vocalista da banda, atualmente um dos mais conceituados tatuadores de BH.

Sem querer curtir com a desgraça alheia, registrarei aqui alguns que, pelo lado triste da vida, acabam marcando presença em nosso cenário urbano também: o primeiro é o cara que anda com uma cartolina amarela, onde escritos com pincel atômico informam: "Sou portador do vírus da AIDS etc. etc...." (acho que este anda por aí até hoje; exemplo de resistência...).

Tem também a velhinha que pede esmola na região central: não há quem não se apiede daquelas rugas e da carinha sofrida. Nem falar ela consegue direito... Mas experimente dar moedinha de baixo valor para você ver o que acontece!!! Ela joga tudo no chão e sai xingando e pisando duro!!!

E o gordão do túnel?! Aquele mendigo enorme, obeso, que ficava na região do Complexo da Lagoinha. Podre de sujo, normalmente envolvido apenas por uns poucos trapos, que mal cobriam as suas "vergonhas", era conhecido, por alguns, pela alcunha de Idi Amim. Este sumiu... Não sei o que foi feito dele... Alguns me disseram que foi recolhido por uma instituição de caridade. Outros afirmam que ele morreu.

Quem morreu mesmo (e pela segunda vez, inclusive! He he he!) foi o Zé Gomes. Este era um senhor (bem no estilo "preto véio") que andava pelas ruas da região do Jaraguá, se oferecendo para capinar lotes, aparar grama de jardins, essas coisas. Aprontava das suas, mas era fácil de lidar e as pessoas acabavam ajudando. Uma ocasião, correu a notícia de que ele tinha morrido. Todos sentiram; não sabiam sequer se ele tinha parente ou alguém para olhar por ele. Até que, um belo dia, eis que vejo (eu mesmo, "com esses óio que a terra há di cumê"!!!) o Zé Gomes andando pela rua. "Sombração" danada!!! Durou ainda mais alguns anos; depois morreu de verdade.

Antes de terminar, queria relembrar um que não é de BH, mas cuja figura me faz rir até hoje: trata-se do Juquinha (acho que era esse mesmo o nome), um desses "doidinhos" do interior... Este andava pelas ruas de Bambuí, nos idos anos 80, com uma metade de bola de capotão fazendo as vezes de chapéu e com o enorme barrigão de fora. Detalhe: ele andava "pelas ruas" mesmo! Em suas alucinações, fingia que dirigia um caminhão: fazia manobras, gritava com seus companheiros imaginários, xingava outros motoristas... Uma peça!

Bom... Não me lembro de mais ninguém no momento. E você, se lembra de mais alguma dessas figuras? Deixe aí o seu comentário!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma viagem por texturas e objetos

Humberto Mainenti

Não é texto, mas são texturas. Então tá valendo!